Eu e a obesidade (1)
Sempre fui uma criança normal “cheinha” na infância e
“espichada” até os 9 anos. No entanto, aos nove, meus seios começaram a crescer
e eu fui a primeira menina da minha escola a usar sutiã (eu disse da escola e
não da sala).
No início, sentia-me especial. Depois, começou a me
incomodar, pois os seios não paravam de crescer. De repente, comecei a
engordar. As roupas de que eu gostava já não cabiam. E, quando cabiam, não
ficavam bem.
Aos 17 fui submetida a uma mamoplastia. E, com a diminuição
dos seios, a gordura começou a ficar ainda mais evidente. Tive que emagrecer
para poder fazer a cirurgia. Mas, com o tempo voltei a engordar.
Passei por “altos e baixos”. Engordava e emagrecia (só
que sempre engordava mais que emagrecia). Entretanto, sempre mantinha os dois
dígitos. Como sempre tive uma vida agitada (trabalhava, fazia faculdade,
inglês, aulas de música) conseguia equilibrar as calorias que ingeria com o
gasto delas.
E seguia comendo. Sempre gostei muito de comer: pizza,
acarajé (dois ou três de uma vez), hambúrguer, batata frita, pastel, sorvete,
cachorro-quente, maniçoba, vatapá, lasanha. Apenas chocolate e refrigerante
nunca fizeram parte do meu cardápio.
Como consequência, fui engordando cada vez mais até
que, com um tremendo susto, cheguei aos três dígitos. A coisa foi tão séria que
não contei a ninguém da família (também creio que não era preciso). Nesse mesmo
período, me descobri diabética e hipertensa.
A partir de então, as doenças só aumentaram: dores no
joelho direito (tive até que engessar por causa de uma inflamação – a perna não
aguentava o peso do corpo), dispineia (respiração inter-cortada), pedra na
vesícula, rinite, sinusite, refluxo, gastrite... “E o pulso ainda pulsa”.
Retornei às consultas com minha endrocnologista (que
não me via há anos). Controlei. No começo, emagreci bastante. Porém, chegou a
um ponto em que, além de não conseguir emagrecer mais, voltei a engordar.
Sabia que teria que operar da vesícula, mas, como meu
pai também estava com o mesmo problema, resolvi dar prioridade a ele e cuidar
de mim depois. E foi justamente em uma consulta de revisão de meu pai que, após
alguns questionamentos sobre problemas de gravidez pelo excesso de peso e
outros, que o médico resolveu verificar meu peso, altura e índice de massa
corporal.
Grande susto! Sempre tive a certeza de que tinha 1,64m de altura e descobri que estava com 1,62m e 99kg. Mais susto! Ele, então,
sugeriu que eu conversasse com minha endrocnologista e pensasse na
possibilidade de fazer uma cirurgia bariátrica, pois tenho obesidade mórbida
nível 1. Obesidade mórbida?! Eu?! Nem sabia que era obesa. Era apenas gorda.
Procedi como me havia sido sugerido. Com a autorização
da endrocnologista, fui procurar saber o que era de verdade essa cirurgia à
qual eu iria me submeter.
A primeira coisa que descobri foi que esse é um
procedimento extremo que só deve ser adotado quando a pessoa já tentou de tudo
(meu caso) e não conseguiu emagrecer ou manter o peso.
É realmente um processo! Para iniciar, os exames: espirometria
(para verificar como anda minha respiração – estou com dispineia), duplex scan
venoso (Doppler / para ver se tenho tendência a ter trombose), raio-x do tórax,
endoscopia digestiva, eletrocardiograma, teste de esforço, ultrassom abdominal,
Holter (para mim, foi o pior: ficar 24h com aquele aparelho me apertando de
meia em meia hora não foi fácil) e exames de sangue (ao todo uns trinta).
Após os exames necessitei da aprovação de quatro
especialistas em forma de um laudo que eu teria que encaminhar ao hospital onde
farei a cirurgia (só falarei sobre isso quando tiver uma data). Dessa forma,
precisei do laudo de: psicóloga (que me acompanhará em todo pré e pós cirúrgico),
nutricionista (que também me acompanhará no pré e pós), endrocnologista (que já
me acompanha há anos), cardiologista (que só me liberou depois de ver um laudo
da pneumologista por causa da dispineia) e do cirurgião, claro.
De posse dos laudos e do encaminhamento do cirurgião,
dei entrada no hospital e estou na fase do “aguarde”. Espero a liberação do
plano e a marcação da data para a cirurgia.
Tenho a intenção de registrar aqui todos os passos a
partir de agora. Sei que muitos já fizeram e fazem isso. Mas, também sei que
cada caso é um caso e, assim como me ajudou observar o processo pelo qual
outras pessoas passaram, espero que meu relato possa ajudar alguém que também
passará pelo mesmo procedimento. Quem sabe até trocar informações.
Pretendo também mostrar imagens de como estou e como
fiquei (ficarei). Da mesma forma, tudo que me for passado pela nutricionista e
endrocnologista passarei para vocês. Uma coisa já aprendi: é difícil nascer de
novo. Esse tipo de cirurgia é uma mudança que deve começar na mente e se
estender às nossas ações.
Hoje, sou o que fiz comigo. Mas, sei que posso e vou
mudar (já estou mudando). Não por estética (sempre me achei bonita e meu
caráter mais bonito ainda), mas por uma melhor qualidade de vida.
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