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O ato de ler: a importância do ato de ler para o ato de pensar


O ATO DE LER: A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER
PARA O ATO DE PENSAR

Monografia apresentada no terceiro semestre do Curso de Bacharelado em Comunicação Social (Habilitação em Relações Públicas), para a disciplina Língua Portuguesa II, sob a orientação da Professora Suzana Maria Freire Bastos, na Faculdades Salvador (FACS), durante o ano letivo de 1992.

Margareth dos Santos de Jesus
Mary Vânia Guimarães Alves
Rita de Cássia Matos dos Santos

INTRODUÇÃO

A leitura, em nossa sociedade e, por consequência, na escola não é ferramenta valorizada de maneira democrática. A formação dos professores não privilegia a leitura como seu principal instrumento de trabalho. Professor que não lê habitualmente não consegue fazer de seus alunos leitores habituais. E quem não lê com frequência não pode escrever com clareza.

Foi a Constituição de 1946 que, pela primeira vez, falou na obrigatoriedade do Ensino Básico. A escola e a família articuladas ofereciam variadas oportunidades de leitura, acesso à bibliotecas, exposições, livros de arte.

Com o modelo econômico desenvolvimentista, a necessidade de formar mão-de-obra fez da leitura, mesmo de maneira mecânica, a restrita condição básica para o trabalho. Uma educação artística e científica

Poder ler, crítica e criadoramente, é condição básica para produzir, conviver e ser livre.

Em nenhum momento, vimos valorizada a aquisição do hábito de leitura na formação do professor como chave mais importante para a solução do problema. As críticas apresentadas pressupõem uma totalidade de professores-leitores e estudiosos; o que não corresponde à realidade. A constatação, em países de primeiro mundo, do iletrismo nos traz uma importante lição que está sendo desprezada: alfabetizar é mais do que ensinar a reconhecer letras e números, significa oferecer condições de leitura nas suas diversas formas permanentes, despertando na criança, bem cedo, a vontade de ler, fazendo com que sua curiosidade natural possa encontrar respostas nos livros, encorajando-a a criar suas próprias ideias.

Urge, pois, criar uma grande estratégia de mobilização em torno da leitura, possibilitando-a a todos. A instauração de uma política de leitura é a alternativa.

Não foi sem leitura que os grandes pensadores e artistas deram contribuições decisivas à história da humanidade. Ainda hoje, são os cidadãos leitores que impõem suas vozes para fazer circularas ideias e pressionar as mudanças; não importando o veículo usado.

A leitura é um dos aspectos mais importantes para nós como ponto de partida para a aquisição de conhecimentos, meio de comunicação e socialização.

Não devemos transformar a leitura em exercícios cansativos de repetição de palavra sem relação com o mundo que nos rodeia, sem o devido preparo anterior.

Para iniciar o ensino da leitura, é necessário que nós tenhamos adquirido maturidade mental, física, social e emocional. O importante não é aprendermos decifrar os símbolos impressos, mas que saibamos captar a mensagem, o sentido das palavras. A leitura é de grande importância no desenvolvimento das pessoas, ela exerce “não só a função de comunicação como, também, a função condutora”.

A leitura é a forma mais usada para a comunicação e por consequência, veículo de socialização. É a leitura que vai interferir grandemente na aprendizagem de modo contínuo e progressivo.

A leitura apresenta muitos aspectos importantes, como:
* ajuda na formação de hábitos, atitudes e no desenvolvimento de habilidades;
* facilita a socialização;
* desenvolve a capacidade de resolução de problemas;
* auxilia a aquisição de conhecimentos;
* melhora a comunicação entre os povos;
* ajuda no desenvolvimento da escrita.

O ensino da leitura visa um progresso contínuo, levando-nos a evoluir de acordo com nossas possibilidades.

Existem vários fatores que interferem na habilidade de leitura: desenvolvimento mental do leitor; condições física do ambiente em que se lê; equilíbrio emocional; ajustamento social e desenvolvimento da linguagem oral. Muitas vezes, a culpa pelas dificuldades da leitura é atribuída à escola.

O desenvolvimento do ensino da leitura, realiza-se através de etapas que devem ser observadas com cuidado, porque cada uma delas deve ser vencida para que possamos passar para a etapa seguinte.

A leitura divide-se:
a)      Quanto à modalidade (oral, silenciosa e em coro);
b)      Quanto à finalidade (fundamental, recreativa e informativa).

NECESSIDADE DE UM INQUÉRITO SOBRE A LEITURA

A atividade de leitura se faz presente em todos os níveis educacionais das sociedades letradas. Tal presença começa na alfabetização. No entanto, ler não é o bastante, é necessário meditar sobre o que se lê. A meditação transforma o conhecimentos em força determinante de ação, porém, é importante ser modesto e agir somente para o bem da sociedade. O estudo deve ser feito, não como ornamento de inteligência, mas como técnica de aperfeiçoamento moral. É fundamental reunirmos a ciência dos livros e dos laboratórios com a ciência empírica da vida.

A verdadeira educação é feita com base em leituras e cursos apropriados. Somente assim, um povo organiza ideias, coordena opiniões, orienta correntes políticas, religiosas, econômicas. Sem continuação de leituras não é possível aproveitar os instrumentos culturais que a escola proporciona. O acesso aos bens culturais pode significar o acesso aos veículos onde esses bens encontram-se registrados (dentre eles, os livros). E, para aproveitarmos a capacidade cultural do povo em todas aas camadas da sociedade, precisamos repetir ideias, fatos, leis, processos, de modo que eles cheguem a ser profundamente compreendidos e se tornem forças de ação. Sendo assim, devemos ter a coragem de repetir, em linguagem clara e despretensiosa, o que os outros precisam saber, e que, às vezes, nós mesmos não sabemos bem.

A leitura é uma fonte de conhecimentos e, se a experiência cultural for tomada como comprometimento do indivíduo com a sua existência, verifica-se a importância da leitura que é clara e potente.

TRAGÉDIA NO ENSINO COMPROMETE A APRENDIZAGEM

Num mundo em que a produção torna-se, cada vez mais, automatizada e complexa, exige-se que as pessoas saibam ler manuais de instrução, que possam fazer tarefas variadas e tomem decisões a cada momento. Isso se torna, cada vez mais, difícil em um país onde o nível de educação básica é vergonhoso, pois, além das pressões exercidas pela pobreza e, muitas vezes, pela fome, as crianças entediam-se na escola, são humilhadas por reprovações logo nos primeiros passos e, rapidamente, descobrem dezenas de motivos para procurar na rua o que não lhes é dado dentro do colégio. Muitas dessas crianças sentem necessidade de arranjar algum tipo de atividade que lhes dê condição de sobrevivência. É principalmente por esse motivo que entre elas não surge o interesse de estudar. Quando as necessidades básicas do ser humano não são supridas, não há, por parte deste, a motivação em buscar atividades necessárias ao seu desenvolvimento intelectual.

Um dos grandes problemas da escola é que ela virou sinônimo de tudo: assistencialismo, recomposição do caráter, formação político-ideológica, educação sexual, ambientalismo. Sendo assim, o processo de incentivo à leitura é colocado em segundo plano. Não se dá a ela a ênfase necessária de gerar a possibilidade de desenvolver o raciocínio. São raras as escolas que ensinam a ler e a operar de maneira eficiente. É muito positivo dar assistência às crianças, mas não se pode planejar o ensino do futuro com pouco ensino. A boa escola é a que ensina bem.

Outro problema a se levar em conta é a eleição de pessoas desqualificadas por meio de uma manifestação política do processo educacional. Existem escolas públicas, por exemplo, em que o diretor é indiciado segundo critérios políticos. Nesses casos, a mola mestre da escola não tem um compromisso mais íntimo com as aspirações da comunidade que a rodeia. Seu compromisso é tirar o máximo proveito da situação, enquanto seu protetor estiver mandando.

Manipulando o ensino, o “governo” manipula a leitura, pois, é na escola que temos, na maioria das vezes, o nosso primeiro contato com a leitura. Mas, a leitura que aprendemos é algo como uma reprodução: aprendemos a repetir o que lemos. Não pensamos, apenas repetimos.


A IMPORTÂNCIA DA COMPREENSÃO CRÍTICA NO ATO DE LEITURA

A leitura é um trajeto no qual e para o qual o texto é ponto de direção da consciência. Ler é, antes de tudo, compreender. A leitura, por envolver a compreensão, significa a “saída de si” ou “um projeto de busca de novos significados, detectando ou aprendendo as possibilidades de ser ao mundo apontadas pelos documentos que fazem parte do mundo da escrita”.

O ato de ler parece movimentar-se através de uma Lei da Gestalt: cada parte experimentada pelo leitor é coerente com outras partes do texto. Para o leitor atingir o significado do texto, ele terá que ler as partes relevantes do documento veiculado, através de um sistema verbal.

Ler um livro é uma espécie de conversação, na qual a última palavra é a do leitor. Se um livro transmite conhecimento, o objetivo do autor é instruir, mas o seu esforço só será coroado de êxito se o leitor fizer a leitura de maneira correta. E, mesmo que o leitor não seja convencido ou persuadido, a intenção e o esforço do autor devem ser respeitados. O leitor lhe deve um julgamento refletido. A atividade da leitura não cessa com o trabalho de entender o que o livro diz. Tem que ser completada pelo trabalho de crítica, pelo trabalho de julgar. A leitura crítica é condição para a educação libertadora; é condição para a verdadeira ação cultural. O Leitor crítico movido por sua intencionalidade, desvela o significado pretendido pelo autor, mas não permanece nesse nível; ele reage, questiona, problematiza, aprecia com criatividade. A criatividade leva o leitor a posicionar-se diante das ideais do autor.

Através dos atos de decodificar e refletir, novos horizontes abrem-se para o leitor, pois ele experimenta outras alternativas. A práxis da leitura possibilita um encaminhamento para reflexão e criação.

A leitura crítica sempre leva à produção de outro texto: o texto do próprio leitor. Ela gera expressão (o desvelamento) do ser leitor. Por isso, ela deve ser caracterizada como um projeto.

Felizes daqueles que não necessitam de livros para pensar, e, evidentemente, infelizes dos que lendo não têm, senão, as mesmas ideias do autor. Não sabemos, na verdade, que prazer podem estes sentir, e nem podemos defini-lo. Mas, para os que estão entre os dois extremos, e supomos que este é o caso da maioria de nós mesmos, “o livro, este pequeno móvel da inteligência, este pequeno instrumento para por em atividade nossas faculdades intelectuais, este motor do espírito que supre as deficiências da nosso indolência, e, ainda mais frequentemente, de nossas carências, proporcionando-nos o delicioso prazer de acreditar que pensamos, ainda que, na realidade, nada pensamos, o livro é, enfim, um precioso e caríssimo amigo”.

CONCLUSÃO

A leitura é algo que está, indiscutivelmente, ligada à vida do ser humano. Para que possamos fazer e ser qualquer coisa na vida, é preciso que saibamos ler.

Podemos dizer que o nosso primeiro contato real com a leitura acontece na escola. Lá, aprendemos a juntar as letras e reproduzir sons. Aprendemos o básico da leitura.

Passamos muito tempo com essa falsa ideia de leitura. Mas, afinal, o que é ler? Será que é apenas dar significado às letras?

Sabemos que não Ler é muito mais que isto: significa entender, interpretar, criar opinião própria, tendo como base o texto que foi lido. Mas, se sabemos disso por que são poucas as pessoas que leem corretamente?

Se ler é sinônimo de ter opinião própria, é claro, que não é do interesse do “governo” que todos pensem. É bem mais cômodo para eles que as pessoas continuem sem pensar, pois, assim, são mais fáceis de serem manipuladas.

Todos os nossos grandes homens, pensadores, filósofos, historiadores foram pessoas que leram muito e da maneira mais correta.

Com base em todos esses dados, podemos concluir que ler leva a pensar e conhecer o significado do mundo, das coisas, de nossa própria existência.

No sentido de crítica da realidade, a leitura, dando-se ou não num processo de alfabetização, associada, sobretudo, a certas práticas políticas de mobilização e organização, pode construir-se como um instrumento de ação contra hegemônica. O ato de ler implica uma percepção crítica e interpretação e reescrita.

Além de tudo isso, o ato de ler pode nos proporcionar um enorme prazer. “O prazer de um texto é o momento em que nossos corpos vão seguindo suas próprias ideias, pois nossos corpos não têm as mesmas ideias que nós”.

REFERÊNCIAS:

ADLIER, Mortimer; DOREN, Charles Van. A arte de ler. Agir: Rio de Janeiro, 1974.

ALVES, Saraisa. Problemas de educação. A Nova Gráfica Bahia: Salvador, 1931.

BARTHES, Roland. O prazer do texto. Edições 70: Lisboa, 1973.

BRITO, Neyde Carneiro de; MANATTA, Valdelice L. Bastos. Didática Especial. Editora do Brasil.

FAGUETE, Emile. A arte de ler. Progresso Editora.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em Três artigos que se completam. 26. ed. Cortez: São Paulo.

REVISTA VEJA. Tragédia no ensino. Edição 1209, nº 47, ano 24, 20/11/91. Editora Abril.

SERRA, Elizabeth D’Angelo. A força da leitura (texto).

SILVA, Ezequiel T. da Silva. O ato de ler: fundamentos psicológicos. Uma nova pedagogia de leitura. 4. ed. Cortez: São Paulo.


Obs:
Essa foi a primeira monografia que fiz em minha vida. Tinha apenas 18 anos. Trilhava os caminhos de minha primeira faculdade. Quantos erros de referência, citação... Saudades. Principalmente da minha equipe que esteve comigo durante quatro anos. Meninas (Mary, Dilene, Sandra, Rita, Liliana, Taíza, Andrea), por onde andam? Mande notícias, “panelinha”.

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